Doenças

26/08/2024 03:00h

Próximo passo será levar para Anvisa e, então, começar os testes em humanos

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"A pandemia de Covid-19 deixou um ensinamento: não deixar tudo para última hora". A frase é da pesquisadora Karine Lourenço, coordenadora do projeto de desenvolvimento da vacina contra Monkeypox, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

A vacina 100% nacional vem sendo desenvolvida pelo Centro de Tecnologia de Vacinas da universidade, desde 2022, quando surgiu a primeira emergência global por Mpox. Os pesquisadores da UFMG trabalham em duas vertentes: uma para desenvolver a vacina em si e outra para avaliação da imunogenicidade desta vacina. 

“A avaliação da imunogenicidade nada mais é do que ver se esta vacina realmente gera uma resposta protetora no desafio contra o vírus Monkeypox”, detalha Karine, que ainda explica em que ponto estão os estudos neste momento.
 
“A gente já avançou na parte de produção da vacina — inclusive em larga escala. E os estudos de imunogenicidade finalizaram em julho, onde nós avaliamos a proteção da vacina frente ao vírus Monkeypox, isso também já foi finalizado.”

Como funciona a vacina nacional MVA

A vacina desenvolvida pela UFMG é feita a partir de um vírus atenuado — que não é capaz de causar o adoecimento ou infecção na pessoa que a recebe.

“Essa vacina chamada MVA contém um vírus muito parecido com o vírus da Mpox, só que incapaz de causar infecção nas células humanas. Quando tomamos essa vacina, nosso corpo produz uma resposta que, quando em contato com o vírus,  impede o organismo de adoecer”, detalha a coordenadora da pesquisa.

Hoje já existem duas vacinas que protegem contra o vírus da Mpox: Jynneos e ACAM 2000. A primeira —  Jynneos — já está disponível e também é produzida a  partir do vírus atenuado. O maior problema dela consiste em ser produzida por apenas uma farmacêutica atualmente.

Já a ACAM 2000 é feita a partir de um vírus não atenuado, o que significa que não pode ser aplicada em pacientes imunossuprimidos — como quem tem HIV ou está em tratamento para o câncer, por exemplo — justamente as pessoas que mais precisam da vacina.

O médico infectologista Victor Bertollo ainda complementa que as vacinas existentes são derivadas da vacina contra a varíola — doença erradicada mundialmente na década de 80 — por isso a produção é muito baixa, assim como a disponibilidade dessas doses.

Houve uma estratégia pontual em 2022 do Ministério da Saúde para trazer uma das vacinas para o Brasil, mas hoje ela não está mais disponível, explica Bertollo. 

“As pessoas não conseguem encontrar essas vacinas nas salas de vacina nem na rede pública, salvo em raríssimas exceções onde eventualmente tenha sobrado alguma dose.” 

Entrega à Anvisa

A coordenadora da equipe de pesquisa explica que o processo está adiantado. “Estamos preparando a documentação que vai ser enviada à Anvisa para que a gente tenha a liberação para que se iniciem os testes em humanos.” 

Karine explica que é agora que vem a parte mais difícil do processo — que é o processo de documentação.

O que é a Mpox?

Detectada pela primeira vez em humanos na República Democrática do Congo, em 1970, a Mpox é considerada hoje uma doença endêmica, sobretudo em países da África central e ocidental. 

Entre os principais sintomas estão erupções ou lesões de pele, linfonodos inchados, além de febre, dores no corpo, dor de cabeça, calafrio e fraqueza. Até que se manifeste a doença, o indivíduo pode levar entre 3 a 16 dias e o diagnóstico é feito a partir de testes de laboratório. 

A transmissão do vírus Monkeypox entre humanos é feita, principalmente, por contato próximo com secreções infectadas das vias respiratórias ou lesões na pele de uma pessoa infectada, ou com objetos contaminados recentemente com fluidos de pacientes ou materiais da lesão. A maior parte dos infectados apresenta sintomas leves e moderados e ainda não existem tratamentos nem medicamentos específicos para a infecção pelo vírus.

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20/08/2024 03:00h

Para infectologistas, o país tem condições de produzir vacinas nos próprios laboratórios nacionais

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O mundo está preocupado com o avanço da mpox – zoonose causada pelo vírus (MPXV), do gênero Orthopoxvirus e família Poxviridae. O Ministério da Saúde já informou que tem monitorado a doença por meio do Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) e está coordenando ações de compra de vacinas. Segundo a pasta, está sendo negociada a aquisição emergencial de 25 mil doses da vacina Jynneos. 

Na opinião do médico infectologista Hemerson Luz, a medida é importante, mas ele esclarece que o Brasil também tem plenas condições de desenvolver uma vacina contra mpox. 

“Já existem iniciativas de algumas universidades, como a UFMG. Além disso, nós temos um parque industrial e científico capaz sim de produzir as vacinas que sejam eficazes, mas esses estudos devem continuar. Temos que lembrar que um estudo de uma vacina começa com a fase pré-clínica, que pode durar até dois ou três anos, depois vem as fases clínicas, divididas em três fases que podem também levar dois a três anos cada fase”,

Mesmo que diferentes laboratórios estejam se preocupando com a produção de vacinas específicas contra a mpox, o infectologista Francisco Job explica que a vacina da varíola aplicada na população através do calendário nacional já apresenta uma eficácia de 85%, permitindo que possa ser usada no controle inicial ou na aplicação de, pelo menos, grupos de risco.

“O que nós devemos estar alertas é para o surgimento de casos que sejam suspeitos, para que nós possamos seguir a quantidade de casos e onde estão acontecendo no Brasil”. O médico ainda acrescenta:

“Não é uma coisa para produzir pânico, nós não vamos ter epidemias de monkeypox como existiram epidemias de varíola do começo do século XX no Brasil. Isso jamais vai acontecer novamente num sistema de saúde bastante estruturado, que é capaz de vacinar inclusive toda a população se necessário”. 

Segundo Francisco Job, já existem diversos grupos estudando monkeypox no mundo, sendo a maior parte bastante conhecedor da varíola humana.

Aquisição de vacinas

A Bavarian Nordic, fabricante da vacina Jynneos, solicitou à Agência Europeia de Medicamentos (EMA, em inglês) autorização para que a dose possa ser aplicada também em adolescentes. De acordo com a empresa, as pesquisas evidenciaram eficácia do imunizante entre adolescentes e adultos. 

No pedido enviado à EMA, a empresa pede autorização para que a dose possa ser aplicada em adolescentes de 12 a 17 anos. Atualmente, existe indicação apenas para pessoas com idade igual ou superior a 18 anos.

Apesar das preocupações, o médico Hemerson Luz entende que, por não se tratar de um vírus transmitido pelo ar, mas por secreções ou contato direto com pessoas doentes, os cuidados são imediatos, não sendo necessária, portanto, a vacinação em massa.

“É importante ressaltar que a vacinação em massa não está indicada agora. Além da quantidade de vacina produzida a nível mundial, que é pouca, primeiro nós temos que fazer estratégias para vacinar os grupos de risco e vacinar aquelas pessoas que têm maior fragilidade caso apresentem a doença”, salienta.

O infectologista Francisco Job reforça que o Brasil nunca deixou de estudar a varíola, mesmo após a erradicação da doença. 

“Nesse momento não existe necessidade de fazer vacinação em massa em nenhum lugar do mundo, nós estamos em situação de emergência porque o número de casos na África, em especial no Congo, está crescendo muito rapidamente e será necessário fazer vacinação naqueles países onde existe uma quantidade maior de casos”. 

Para ele, a vacina deve estar disponível rapidamente quando for necessária. “Não existe necessidade, nesse momento, do Brasil estar produzindo grandes quantidades de vacina, mas é importante que nós saibamos produzi-la e nós sabemos produzi-la”, reforça.

Casos no Brasil

Durante a primeira emergência global por mpox, em 2023, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso emergencial da Jynneos para combater a doença em um primeiro momento. 

Desde então, mais de 29 mil doses foram aplicadas em todo o país. Segundo a pasta, 27 Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACENs) e quatro laboratórios de referência nacional realizam exame diagnóstico para mpox. Atualmente, todo o país está abastecido com insumos para essa testagem, informa o órgão.

O Ministério da Saúde informa que, desde o início do surto de mpox em 2022 até hoje, o Brasil registrou 12.215 casos confirmados ou prováveis da doença. Desses, 91,3% são pacientes do sexo masculino e 70% têm entre 19 e 39 anos. Também foram registrados 16 óbitos. Todos do sexo masculino, com idades entre 26 e 35 anos. O último foi confirmado no dia 17 de abril de 2023.  

Só em 2024, foram 696 casos confirmados e 13 prováveis, sendo 85,9% do sexo masculino, 44% entre 30 e 39 anos e 30,6% entre 18 e 29 anos. Além disso, este ano, foram contabilizadas 49 hospitalizações e cinco internações em UTI.
 

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Saúde
16/08/2024 03:00h

Entre as ações anunciadas, a pasta vai ampliar a capacidade de diagnóstico, negociar compra de medicamentos e vacinas e atualizar plano de contingência

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O Ministério da Saúde anunciou nesta quinta-feira (15) a instalação de um Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) para coordenar as ações de resposta à Mpox. Durante reunião na sede da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), onde o COE foi instalado, a secretária da pasta Ethel Maciel destacou as principais ações para conter a disseminação da Mpox, entre elas:

  • ampliação da capacidade de diagnóstico;
  • negociação para compra de medicamentos para tratamento da Mpox (como o Tecovirimat);
  • negociação com a Organização Mundial de Saúde (OMS) para aquisição emergencial de 25 mil doses de vacinas;
  • atualização do Plano de Contingência 2024 .
  • A secretaria de Vigilância em Saúde destacou que, apesar de a OMS ter decretado os casos de Mpox na África como situação de emergência de saúde global, o Brasil ainda está em nível 1, ou seja, em situação de normalidade. Isso acontece porque o território brasileiro não registrou nenhum caso da variante 1b do mpox vírus, que é considerado mais transmissível e pode causar doenças mais graves. Até o momento, essa cepa já foi identificada em países como a República Centro-Africana, República Democrática do Congo e Ruanda. 

Durante o webinário "Situação Epidemiológica e Resposta à Mpox no Brasil", realizado nesta terça-feira (13), o diretor do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi) Draurio Barreira disse que, embora os casos no Brasil não sejam tão expressivos, é preciso manter as medidas preventivas.

“Nós temos um aumento sem precedentes na África. Mas nessa época de globalização que a gente vive, ter um caso na África, na Ásia, em qualquer lugar, significa um risco de isso se tornar uma epidemia global. Acho que essa iniciativa do webinário é uma antecipação para que não sejamos pegos de surpresa, caso tenhamos uma nova pandemia.”

Perfil dos casos no Brasil

Segundo o Ministério da Saúde, desde o início do surto de Mpox em 2022 até hoje, o Brasil registrou 12.215 casos confirmados ou prováveis da doença. Desses, 91,3% são pacientes do sexo masculino e 70% têm entre 19 e 39 anos. 

Só em 2024, foram 696 casos confirmados e 13 prováveis, sendo 85,9% do sexo masculino, 44% entre 30 e 39 anos e 30,6% entre 18 e 29 anos. Além disso, este ano, foram contabilizadas 49 hospitalizações e cinco internações em UTI.

Desde 2022, foram registrados 16 óbitos por Mpox, todos do sexo masculino, com idades entre 26 e 35 anos. O último óbito no Brasil pela doença foi confirmado no dia 17 de abril de 2023. 

O diretor do Dathi Draurio Barreira ressalta a importância de ficar atento aos sintomas e buscar tratamento.

“Nós não temos um teste rápido, mas os testes que nós temos são testes de grande precisão, no sentido de que são testes moleculares ou de sequenciamento genético. Mas não dá tempo de esperar o diagnóstico definitivo por método laboratorial para que a gente evite o processo da transmissão da doença. Portanto, na sintomatologia de pústulas, de erupções cutâneas, de feridas, de todas as manifestações cutâneas que possam aparecer, a gente tem que pensar imediatamente na Mpox. Porque, de fato, é o raciocínio que a gente tem que fazer de pensar em Mpox, isolar o paciente, começar o tratamento disponível de suporte.”

Durante a reunião de instalação do COE, o Ministério da Saúde manteve a recomendação de vacinação contra Mpox para:

  • pessoas vivendo com HIV/aids (PVHA): homens cisgêneros, travestis e mulheres transexuais; com idade igual ou superior a 18 anos; e com status imunológico identificado pela contagem de linfócitos T CD4 inferior a 200 células nos últimos seis meses;
  • profissionais de laboratório que trabalham diretamente com Orthopoxvírus em laboratórios com nível de biossegurança 2 (NB-2), de 18 a 49 anos de idade;
  • pessoas que tiveram contato direto com fluidos e secreções corporais de pessoas suspeitas, prováveis ou confirmadas para Mpox, cuja exposição seja classificada como de alto ou médio risco, conforme recomendações da OMS, mediante avaliação da vigilância local.

Saiba mais no site do Ministério da Saúde.

Ministério da Saúde recomenda que estados e municípios façam vigilância local dos casos de Mpox

OMS atualiza lista de doenças capazes de provocar pandemias

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15/08/2024 03:00h

Brasil registrou 709 casos em 2024, uma média de 40 a 50 novas infecções por mês

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O Brasil registrou 709 casos confirmados ou prováveis de Mpox em 2024, uma média de 40 a 50 novas infecções por mês, segundo o Ministério da Saúde. Em agosto de 2022, quando o país teve um pico da doença, foram contabilizadas mais de 40 mil notificações. Um ano depois, em agosto do ano passado, o número caiu para pouco mais de 400. 

Nesta quarta-feira (14), a Organização Mundial da Saúde chegou a declarar o surto de Mpox em curso na África como emergência de saúde global. A entidade convocou o comitê de emergência sobre a doença em meio ao receio de que uma cepa mais perigosa do vírus, o clado Ib, tivesse atingido quatro províncias da África anteriormente não afetadas. 

Durante o webinário "Situação Epidemiológica e Resposta à Mpox no Brasil", realizado nesta terça-feira (13) pela pasta, o diretor do Departamento de Emergências em Saúde Pública do Ministério da Saúde, Márcio Garcia, reforçou que o Brasil não está em situação de emergência de saúde pública, mas recomenda que estados e municípios façam a vigilância local dos casos.

“Precisamos estar atentos para fortalecer a nossa vigilância, nossas estratégias de detecção, para que a gente possa ter uma detecção oportuna, caso o cenário epidemiológico no Brasil venha a sofrer alguma alteração. Mas destacar principalmente a importância das vigilâncias em nível local, nos municípios e nos estados. Cada local se organiza de uma forma. No Ministério da Saúde, a vigilância de Mpox está no Departamento de HIV, Aids, Tuberculose e Hepatites. Então, a gente respeita muito a autonomia de municípios e estados.”

As amostras biológicas colhidas pelos municípios podem ser encaminhadas para um dos 27 Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACENs) ou um dos três laboratórios de referência nacional que realizam exame diagnóstico para Mpox. Segundo o Ministério da Saúde, todo o país está abastecido com insumos para a testagem.

Mpox

A Mpox é uma doença zoonótica viral, ou seja, a transmissão pode acontecer tanto pelo contato com pessoas e materiais contaminados com o vírus quanto com animais silvestres infectados.

Os principais sintomas são:

  • lesões na pele ou erupções cutâneas
  • ínguas
  • febre
  • dores no corpo e de cabeça
  • calafrios e fraqueza

A infectologista Joana D’arc Gonçalves detalha os sintomas:

“No início, são sintomas inespecíficos, como febre, mal-estar, dor de cabeça, dor no corpo. Depois de alguns dias, a febre vai diminuindo e começam a aparecer algumas manchas no corpo, que acabam evoluindo para algumas bolhas. E essas bolhas evoluem para uma crosta que, com os dias, caem. Geralmente as feridas são muito comuns na palma das mãos, planta dos pés. Mas alguns indivíduos podem ter lesões no corpo inteiro, na mucosa oral, vaginal, órgãos genitais. E os sintomas podem ser desde leves até graves e algumas pessoas podem até vir a óbito.”

O tratamento é feito com medidas de suporte clínico para aliviar os sintomas e prevenir complicações e sequelas. “O tratamento para quem está infectado de forma grave, severa, com muitas lesões disseminadas pelo corpo, alguns hospitais têm utilizado antivirais como tecovirimat e outros como uma tentativa de controle da disseminação da doença. Mas muita coisa está em estudo ainda para ver a questão de eficácia e de segurança”, explica a infectologista.

Prevenção e vacina

Uma vez que a transmissão do vírus Mpox ocorre por contato com gotículas e outras secreções respiratórias, a principal recomendação é que as pessoas doentes fiquem em casa.

“Para a pessoa que está doente, [a recomendação é] para que ela fique em casa pelo menos até que as crostas caiam, até que as feridas sequem. Depois  também evitar tocar em objetos, cobrir a lesão, para não contaminar o ambiente. E caso [precisar] sair e ter em contato com outras pessoas, o ideal é usar máscara para evitar a disseminação das gotículas infectantes”, orienta.

Para quem não está infectado, a doutora Joana D’arc recomenda a vacinação. Atualmente, o imunizante contra a Mpox está disponível gratuitamente no SUS para pessoas com maior risco de evolução para as formas graves da doença, como:

  • pessoas vivendo com HIV/aids (PVHA): homens cisgêneros, travestis e mulheres transexuais; com idade igual ou superior a 18 anos; e com status imunológico identificado pela contagem de linfócitos T CD4 inferior a 200 células nos últimos seis meses;
  • profissionais de laboratório que trabalham diretamente com Orthopoxvírus em laboratórios com nível de biossegurança 2 (NB-2), de 18 a 49 anos de idade;
  • pessoas que tiveram contato direto com fluidos e secreções corporais de pessoas suspeitas, prováveis ou confirmadas para Mpox, cuja exposição seja classificada como de alto ou médio risco, conforme recomendações da OMS, mediante avaliação da vigilância local.

Saiba mais no site do Ministério da Saúde.

OMS atualiza lista de doenças capazes de provocar pandemias

Mpox ainda é problema de saúde pública, dizem especialistas

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13/08/2024 03:00h

Lista atualizada pela OMS traz vírus e bactérias capazes de causarem doenças que podem desencadear nova preocupação mundial

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Uma lista longa — com cerca de 30 microorganismos — capazes de causar doenças que se propagam rapidamente pelo mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) atualizou a lista de doenças que podem provocar surtos e repetir o que a Covid-19 fez com a humanidade há pouco mais de quatro anos. 

O relatório da OMS elenca os principais patógenos com potencial de desenvolverem epidemias, tais como dengue, pneumonias e síndromes respiratórias. A pesquisa estudou mais de 1600 vírus e bactérias estudados por 200 cientistas de 50 diferentes países com o objetivo de alertar a comunidade médica e científica de todo o mundo. 

O sanitarista Jonas Brant explica que tratam-se de doenças que têm um potencial de transmissão importante e que são facilitadas pela forma de vida que levamos hoje. 

“Hoje em dia o mundo é globalizado. Por isso, são listadas doenças que muitas pessoas nem conhecem, uma vez que são doenças endêmicas em algumas regiões do mundo, Mas que, pelo fato de vivermos num mundo globalizado, essas doenças podem ‘escapar’ daquela região e ganhar uma projeção muito grande”, explica o especialista. 

Lista atual tem o dobro de patógenos da anterior 

Velhos conhecidos dos brasileiros como dengue, chikungunya, cólera, pneumonia, febre amarela, salmonelose não-tifoide, doença mão-pé-boca, gripes e outras febres hemorrágicas passaram a fazer parte da lista, que agora tem o dobro de doenças da anterior. 

Ainda assim, a OMS destaca que “essa não é uma lista exaustiva nem indica as causas mais prováveis da próxima epidemia.” Segundo a entidade, “A OMS revisa e atualiza essa lista à medida em que há necessidade e à medida em que as metodologias mudam”, destacando que essas são doenças tratadas como prioritárias. 

O principal objetivo da lista é conseguir sensibilizar toda a comunidade internacional de que nós precisamos de investimentos de preparação para essas doenças. O sanitarista explica. 

“Garantir que a nossa vigilância esteja organizada para isso, que os nossos laboratórios estejam preparados para isso, que nós tenhamos ferramentas de controle caso essas doenças apareçam. E também que possamos investir em pesquisa para poder nos preparar para essas doenças como vacina, tratamento, estratégias de controle”, alerta Brant. 

Em nota, o Ministério da Saúde esclarece que intensifica esforços para lidar com os patógenos listados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), focando em três frentes principais: preparação robusta, vigilância eficaz e resposta oportuna às emergências em saúde pública (ESP). A pasta colabora ativamente com organizações internacionais.  Essa colaboração inclui o compartilhamento de informações críticas, participação em iniciativas globais de preparação e resposta a pandemias e a adoção de melhores práticas recomendadas internacionalmente.

Monkeypox

O sanitarista aponta como exemplo a doença conhecida como Monkeypox — uma doença infecciosa causada por mpox vírus que afeta seres humanos e outros animais. Tem como principais sintomas febre e erupções na pele, mas também calafrios inchaço em pequenas glândulas, especialmente em regiões perto do pescoço.
A doença ganhou destaque no Brasil depois que, em 2022, mais de 33 mil casos foram registrados. Endêmica da África, a monkeypox, acabou ganhando escala global. “Hoje temos ocorrências em vários lugares do mundo que foram introduzidas a partir de um surto que ocorreu na Europa em 2022.” 

Outra doenças listadas como prioritárias pela OMS

Febre Lassa
A febre de Lassa é uma infecção por arenavírus frequentemente fatal e que ocorre principalmente na África Ocidental. Pode envolver sistemas de múltiplos órgãos. O diagnóstico é realizado com testes de sorologia e PCR. O tratamento é feito com ribavirina intravenosa.

Febre hemorrágica argentina
Febres hemorrágicas virais (VHFs) são um grupo de doenças infecciosas com sintomas semelhantes em humanos; os vírus causadores afetam o sistema vascular e podem produzir uma doença multissistêmica grave em alguns pacientes. 

Cólera
A cólera é uma doença bacteriana infecciosa intestinal aguda, transmitida por contaminação fecal-oral direta ou pela ingestão de água ou alimentos contaminados. Frequentemente, a infecção é assintomática ou causa diarreia leve.

Shigelose
Shigelose é uma doença infecciosa causada por um grupo de bactérias chamadas Shigella. Caracteriza-se por dor abdominal e cólica, diarreia com sangue, pus ou muco; febre, vômitos e tenesmo, em geral, iniciam-se, um ou dois dias após a exposição às bactérias.

Salmonela
É uma bactéria que causa intoxicação alimentar e em casos raros, pode provocar graves infecções e até mesmo a morte. A transmissão se dá com a ingestão de alimentos contaminados com fezes de animais. A bactéria é encontrada normalmente em galinhas, porcos, répteis, anfíbios, vacas e até mesmo em animais domésticos, como cachorros e gatos. Dessa forma, qualquer alimento que venha desses animais ou que tenha entrado em contato com suas fezes podem ser considerados vias de transmissão da Salmonella (Salmonellose). 

Pneumonia
Pneumonia é uma infecção que se instala nos pulmões, órgãos duplos localizados um de cada lado da caixa torácica. Pode acometer a região dos alvéolos pulmonares, onde desembocam as ramificações terminais dos brônquios e, às vezes, os interstícios (espaço entre um alvéolo e outro).

Síndrome respiratória Aguda Grave
Dentre as doenças que causam essa síndrome, estão as infecções dos pulmões (pneumonias), que podem ser causadas por vários microorganismos, como bactérias, vírus e até fungos. Entre estes microorganismos, está o novo coronavírus.

Zika
Transmitido pela picada de mosquito infectado, o Zika é uma doença febril autolimitada, semelhante às infecções pelo vírus Chikungunya e dengue. Mas quando acontece no período da gestação, pode causar complicações neurológicas, como microcefalia congênita em fetos e recém-nascidos. De acordo com o Ministério da Saúde, todos os sexos e faixas etárias são igualmente suscetíveis ao vírus, porém, mulheres grávidas e pessoas acima de 60 anos apresentam maiores riscos de desenvolver complicações da doença. Os riscos podem aumentar quando a pessoa tem alguma comorbidade.

Covid-19
Trata-se de uma infecção respiratória — que pode se tornar aguda — causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, de elevada transmissibilidade. A infecção acontece por meio da exposição a fluídos respiratórios de três maneiras: inalação de gotículas muito finas ou partículas de aerossol; deposição de gotículas respiratórias e partículas nas membranas mucosas expostas na boca, no nariz ou nos olhos, seja por respingos diretos e sprays; e tocar diretamente membranas mucosas com as mãos sujas por fluídos respiratórios contendo o vírus.

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27/07/2024 00:03h

As infecções respiratórias aumentaram principalmente em alguns estados do Sul e Sudeste, aponta Boletim InfoGripe

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Os pais e responsáveis devem seguir atentos com a circulação do vírus sincicial respiratório (VSR). O mais recente Boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostra um elevado número de internações e óbitos em crianças pequenas. Atingindo 36,8% da população, ele ainda se mostra como a principal causa dos casos de hospitalizações. 

O levantamento revela sinais de interrupção do crescimento ou início de redução das hospitalizações em alguns estados do Centro-Sul. No entanto, em algumas regiões do Sul e Sudeste ainda há manutenção do crescimento dos casos, como explica a pesquisadora do Programa de Computação Científica da Fiocruz (Procc/Fiocruz) e do InfoGripe Tatiana Portella.

“Alguns estados das regiões Sudeste e Sul ainda apresentam um aumento de hospitalizações por influenza em idosos, como os estados de Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, e também para o VSR em crianças pequenas, até dois anos, nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul”, destaca.

Segundo a pesquisadora, a atualização constatou que alguns estados do Norte também registram continuidade do crescimento dos casos de VSR e rinovírus na população até dois anos.

Casos nos estados

De acordo com o estudo, existem indícios de crescimento da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) na tendência de longo prazo no Acre, Bahia, Minas Gerais e Roraima. Entre as capitais, cinco têm indícios de crescimento de SRAG: Boa Vista (RR), Fortaleza (CE), Rio Branco (AC), Salvador (BA) e São Luís (MA).

De acordo com a pesquisa, referente ao ano epidemiológico 2024, já houve 44,8% de notificações do vírus sincicial respiratório. Só nas últimas quatro semanas, a prevalência entre os casos positivos foi de 36,8% de vírus sincicial respiratório.

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20/07/2024 00:02h

Especialista destaca importância da vacinação e medidas de biossegurança para prevenir a disseminação do vírus

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No Rio Grande do Sul, foi confirmado um caso de doença de Newcastle em um estabelecimento de avicultura comercial no município de Anta Gorda (RS). Os últimos casos confirmados no Brasil ocorreram em 2006 e em aves de subsistência, nos estados do Amazonas, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Em nota, a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do estado informou que essa é uma enfermidade viral que afeta aves domésticas e silvestres.

Segundo a pasta, a notificação da doença de Newcastle foi realizada de acordo com os critérios de definição de caso suspeito de Síndrome Respiratória e Nervosa das Aves e as amostras colhidas foram submetidas ao Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de Campinas (LFDA-SP).

O Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal conduziu uma investigação clínica e epidemiológica em granjas avícolas na área e as informações divulgadas foram:

  • "No raio de 3 km existem apenas granjas avícolas de corte comercial. Nenhum caso suspeito foi detectado;
  • Além da investigação, foram realizadas fiscalizações de biosseguridade e orientações aos produtores para reforço das medidas preventivas e sensibilização para a notificação de suspeitas e
  • O Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal (DDA) da SEAPI adotará medidas previstas no Plano de Contingência para Emergências Zoossanitárias, buscando o rápido controle e eliminação das fontes de infecção, incluindo limpeza e desinfecção."

Daniel Andrade, médico veterinário, explica que os sintomas da doença de Newcastle são dificuldade respiratória, espirros, tosse de forma digestiva, diarreia, perda de apetite, redução na produção de ovos, ovos com casca deformada, entre outros.

"A transmissão da doença é através do contato direto. As aves infectadas eliminam o vírus através das secreções respiratórias e das fezes e [há transmissão com] o contato direto com equipamentos, roupas, veículos e alimentos contaminados", explica.

Diagnóstico e Prevenção

O médico veterinário ainda explica que o diagnóstico é feito por meio de testes laboratoriais, como o isolamento viral e o teste sorológico, para confirmação da presença do vírus. A principal forma de prevenção da doença é a vacina, mas existem outras medidas de controle e segurança.

"Como controle de visitantes, desinfecção de equipamentos e controle de pragas, isolamento e abate sanitário. Em caso de surtos, pode ser necessário isolar as aves infectadas ou em casos graves e proceder o abate sanitário mesmo. É uma doença de importância econômica e de saúde pública, a doença de Newcastle tem grande importância devido ao impacto na produção avícola", destaca.

Andrade ressalta que embora não seja considerada uma zoonose grave, a doença de Newcastle é de notificação obrigatória à Organização Mundial de Saúde (OMS), devido ao potencial de impacto na avicultura global.

Riscos para o ser humano

De acordo com Andrade, a doença pode causar conjuntivite "leve" em humanos que manuseiam aves infectadas.

Leia mais:

Brasil registrou 166 focos de gripe aviária entre 2022 e 2024

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17/07/2024 00:05h

Levantamento realizado pelo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), iniciativa da Fiocruz e Unifase, aponta recorde de internações de bebês menores de um ano por pneumonia, bronquite e bronquiolite no Sistema Único de Saúde (SUS). Regiões Sul e Centro-Oeste tiveram maiores taxas de internações.

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De 2022 a 2023 o número de internações de bebês por problemas respiratórios no Brasil teve um salto de 24%. Ao todo, no último ano, foram registradas 152.951 internações de bebês menores de um ano por pneumonia, bronquite e bronquiolite no Sistema Único de Saúde (SUS) – uma média de 419 por dia. Os dados compõem um levantamento feito pelo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), iniciativa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Centro Universitário Arthur Sá Earp Neto/Faculdade de Medicina de Petrópolis (Unifase/FMP).

O levantamento utilizou dados do Sistema de Internações Hospitalares do SUS de 2008 a 2024 e apontou que o quantitativo de internações em 2023 foi um recorde histórico. “É o maior número registrado nos últimos 15 anos”, diz um trecho da nota publicada pela Fiocruz.

O pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fiocruz (Icict/Fiocruz), Cristiano Boccolini, menciona que os dados apontam que até 2015 houve uma queda contínua das internações seguida de estabilização relativa entre 2016 e 2019. Já em 2020 houve queda, como explica Cristiano. Porém, os números vêm subindo.

“Em 2020, o primeiro ano da pandemia de Covid-19, observamos uma queda de 300% das hospitalizações, a menor taxa de toda a série histórica, e desde então a gente vem observando ano após ano o aumento das taxas de hospitalização dessas crianças, alcançando o maior nível nos últimos 15 anos em 2023. Só pra ter uma ideia, entre 2022 e 2023, a gente teve um aumento de 30 mil crianças ou bebês, com menos de um ano de idade, sendo hospitalizadas por essas causas”, destaca o pesquisador.

Cristiano Boccolini pontua que a baixa cobertura vacinal infantil e as mudanças climáticas são as principais hipóteses para o aumento das internações de bebês por doenças respiratórias no país. Segundo o pesquisador, a vacinação das gestantes tem papel relevante no fortalecimento da imunidade dos bebês, o que pode colaborar para redução das internações.

“Porque as gestantes que são vacinadas contra a influenza e também contra a Covid-19, elas passam parte dessa imunidade para o bebê e o bebê já nasce com os antígenos necessários para combater essas infecções”, ressalta Boccolini.

De acordo com o estudo, o SUS desembolsou R$ 154 milhões ano passado para cuidar dos bebês internados. O montante é cerca de R$ 53 milhões a mais que o valor registrado em 2019.

Recorte regional

Quando analisados por regiões, os dados apontam que as regiões Sul e Centro-Oeste apresentaram as maiores taxas de internação em 2023. “O frio intenso e as queimadas associadas ao clima seco, respectivamente, contribuem para deixar o sistema respiratório das crianças mais vulnerável”, destaca a Fiocruz no seu site.

Confira a tabela com a taxa de internações por doenças respiratórias por região:

O pesquisador da Fiocruz, Cristiano Boccolini, salienta as peculiaridades climáticas das regiões Sul e Centro-Oeste e como elas contribuem para o aumento nas internações dos bebês por doenças respiratórias. 

“Eventos climáticos extremos, como o frio extremo, excesso de chuvas na Região Sul, as queimadas e a presença de poluentes atmosféricos na região centro-oeste levaram a uma taxa maior de hospitalização de crianças com menos de um ano de idade por pneumonia e bronquites”, diz Boccolini.

Vacinação contra covid-19

Além da baixa cobertura vacinal contra influenza e as mudanças climáticas, a baixa procura por vacinas contra a Covid-19 para bebês a partir de 6 meses de idade também contribui para o cenário de internações. Cristiano Boccolini destaca a importância da imunização de bebês contra a Covid-19, já que a infecção pela doença abre brecha para o desenvolvimento de outras comorbidades respiratórias nessa faixa etária, segundo o pesquisador. 

“A gente continua observando uma baixa cobertura vacinal, em especial nas crianças a partir de seis meses, que já podem ser vacinadas contra a Covid e que ainda assim têm uma taxa de vacinação baixíssima contra esse antígeno específico. E a infecção por Covid pode abrir oportunidade para a infecção por outros vírus, podendo gerar aí no caso pneumonia e bronquite nesses bebês”, enfatiza Boccolini.

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13/07/2024 00:04h

O boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostra que a mortalidade por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças pequenas segue alta, em função da grande circulação do vírus sincicial respiratório (VSR). Já em idosos, as mortes estão ligadas à gripe, influenza e covid-19.

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Segundo o boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado em 11 de julho, a mortalidade por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças pequenas segue alta, por conta da grande circulação do vírus sincicial respiratório (VSR). Já em idosos, as mortes estão ligadas à gripe, influenza e covid-19.

O levantamento aponta que seis estados apresentam sinal de aumento do número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave na tendência de longo prazo: Amapá, Pará, Roraima, São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais.

A mortalidade da SRAG nas últimas oito semanas foi semelhante na faixa infantil de zero a dois anos e em idosos. 

Já a covid-19 tem mantido patamares baixos em comparação ao seu histórico de circulação. Porém, o vírus tem sido a principal causa de internação por SRAG entre os idosos em três unidades da federação nas últimas semanas: Amazonas, Ceará e Piauí.
 

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16/06/2024 03:00h

Em casos graves a dengue pode afetar coração, rins, fígado e cérebro, dizem especialistas. O Brasil lidera o ranking mundial de casos da doença, com 82% em todo o mundo.

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É comum que pacientes infectados por dengue sintam dores no corpo, febre alta e tenham manchas na pele. Esses sintomas duram em torno de 5 a 7 dias. Porém, mesmo após a cura, alguns sintomas podem persistir, como a fadiga extrema, dores musculares e articulares, além de manchas na pele.

Estou com dengue, o que fazer?

O infectologista Julival Ribeiro aponta que as pessoas diagnosticadas com dengue grave, chamada de dengue hemorrágica, podem continuar com sintomas e ter sequelas, como insuficiência cardíaca e miocardite – uma inflamação do tecido muscular do coração. Julival menciona, ainda, que podem haver sequelas cerebrais.

“A depender do quadro clínico da dengue, se foi grave, podem surgir manifestações neurológicas, por exemplo, perda de memória, se a pessoa teve uma inflamação no cérebro, e irritabilidade. Tudo isso pode acontecer a longo prazo com a dengue”, destaca o infectologista.

Caso o paciente apresente sintomas semanas após a cura, deve procurar assistência médica. “Nas pessoas que tiveram dengue grave, é que essas alterações podem durar por longo tempo, ou mesmo tornar-se um problema crônico. Portanto, quem teve dengue, apresenta sintomas depois de várias semanas ou meses, deve procurar um serviço de saúde para esclarecer”, indica Julival.

Dengue hemorrágica

As alterações de saúde afetam, em especial, pacientes que tiveram dengue hemorrágica. O especialista em doenças tropicais do hospital Anchieta e infectologista, Manuel Palácios, explica como a dengue clássica evolui para a hemorrágica.

“A dengue pode evoluir para dengue hemorrágica, ou dengue grave, quando há um aumento da permeabilidade vascular, levando a vazamento de plasma, sangramentos graves e falência de órgãos. A fase crítica, onde o paciente está mais vulnerável, pode durar de 24 a 48 horas”, pontua.

Segundo Manuel Palácios, os sintomas da progressão da doença costumam aparecer entre o 3º e o 7º dia e coincidem com a queda da febre. Os sintomas são:

  • Sangramentos espontâneos: nas gengivas, nariz e trato gastrointestinal
  • Dor abdominal intensa e contínua
  • Vômitos persistentes
  • Letargia ou irritabilidade

A médica intensivista do Hospital Santa Marta, localizado em Taguatinga Sul no Distrito Federal, Adele Vasconcelos, explica que a dengue causa desidratação interna por perda de líquido, o que faz com que o sangue engrosse e as plaquetas caiam – fatores que aumentam o risco de hemorragia. “A evolução da dengue para a hemorrágica depende de organismo para organismo. A gente só considera uma dengue como hemorrágica se o paciente tiver algum tipo de sangramento, seja ocular, no nariz, na boca, na urina, nas fezes, às vezes até na cabeça, um AVC”, salienta a médica.

Em relação às sequelas da dengue grave, órgãos como coração, rins, fígado e cérebro podem ser afetados. A professora do Gama, no Distrito Federal, Gláucia Ferreira Matos, 45 anos, teve a doença em março deste ano. Ela relata que, além da dengue ter afetado a imunidade dela, tem investigado problemas nos rins e fígado.

“A dengue atingiu gravemente o meu fígado, consequentemente o meu rim também e, agora, eu venho fazendo acompanhamento, exames de sangue, hemograma, alguns exames mais específicos para acompanhar, porque eu venho sentindo sintomas que eu nunca tive na vida antes de ter dengue”, conta a professora.

Têm maior risco de desenvolver dengue hemorrágica crianças, idosos, gestantes, portadores de doenças imunossupressoras (HIV/Aids, doenças autoimunes, neoplasias), além de pessoas com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão e indivíduos previamente infectados com um sorotipo diferente do vírus da dengue.

Quadro diagnóstico 

  • Dengue clássica: febre alta, dor de cabeça, dor por trás dos olhos, dores musculares e articulares, exantema (manchas na pele) e, às vezes, sangramento leve das gengivas ou nariz. Dura geralmente de 5 a 7 dias;
  • Depois podem persistir: fadiga extrema, que pode durar várias semanas; dores musculares e articulares, por algumas semanas ou meses; exantema pode aparecer novamente alguns dias após a febre ter cessado e durar de 1 a 5 dias;
  • Progressão para dengue hemorrágica: sangramentos espontâneos nas gengivas, nariz , dor abdominal, vômitos persistentes. Costumam aparecer entre o 3º e o 7º dia, coincidindo com a queda da febre;
  • Sinais de dengue grave: choque, caracterizado por pulso fraco e rápido, pressão arterial baixa, extremidades frias e úmidas; sangramento grave (vômitos com sangue, fezes escuras, sangramento vaginal excessivo, entre outros); comprometimento de fígado, cérebro, coração. Podem surgir de 3 a 7 dias após o início dos sintomas (nos casos graves);

Repercussão da dengue no país

O Ministério da Saúde pontua que, em 2024, o avanço histórico da doença no país fez 10 estados e o Distrito Federal decretarem situação de emergência. 

Veja alguns dados sobre atendimentos por dengue na rede pública do país:

  • Goiás: 3.835 internações de janeiro a 4 de junho de 2024;
  • Mato Grosso: 1.991 hospitalizações este ano (enviados até dia 4 de junho);
  • Bahia: foram 9.958 hospitalizados em 2024 (enviados até dia 5 de junho);
  • Distrito Federal: 72.615 pacientes foram atendidos por dengue este ano (dados até 14 de junho).

Em um levantamento realizado pelo Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp), de 3 a 13 de maio de 2024, 96% dos hospitais paulistas registraram aumento de internações de pacientes por dengue e síndrome respiratória aguda grave (SRAG).

Segundo o informe da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil lidera o número de diagnósticos e mortes por dengue em 2024, com 82% dos casos registrados no mundo, sendo 6,3 milhões de casos prováveis e 3 milhões confirmados em laboratório.

Prevenção e combate à dengue 

Com uma vistoria de 10 minutos semanais em casa, os moradores podem acabar com os possíveis criadouros do mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti, segundo o Ministério da Saúde. Confira alguns cuidados:

  • Colocar areia nos vasos de plantas;
  • Verificar garrafas, pneus, calhas, caixas d'água;
  • Checar o recipiente atrás da geladeira e climatizador;
  • Olhar plantas e pratos que acumulem água;
  • Amarrar bem sacos de lixo;
  • Limpar bem as calhas de casa.

Para mais informações sobre a dengue e formas de prevenção, acesse: www.gov.br/mosquito.  
 

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